quarta-feira, 17 de agosto de 2022

JOHN DONNE - NENHUM HOMEM É UMA ILHA POR SI MESMO (Tradução de Evaldo Vieira)


 

JOHN DONNE

 

AGORA DIZEM O SOM DE UM LENTO, MORRERÁS

XVII NUNC LENTO SONITU DICUNT, MORIERIS

XVII Meditações

 

Talvez aquele por quem este sino dobra esteja tão doente, que não saiba que ele dobra por ele; e talvez eu me julgue tão melhor do que sou, que aqueles que estão ao meu redor e veem meu estado podem tê-lo causado a mim, e eu nada sei disso. A igreja é católica, universal, assim como todas as suas ações; tudo o que ela faz pertence a todos. Quando ela batiza uma criança, essa ação me preocupa; pois essa criança está assim conectada àquela cabeça que é minha cabeça também, e enxertada naquele corpo do qual sou membro. E quando ela enterra um homem, essa ação me preocupa: toda a humanidade é de um autor e é um volume; quando um homem morre, um capítulo não é arrancado do livro, mas traduzido para uma linguagem melhor; e cada capítulo deve ser assim traduzido; Deus emprega vários tradutores; algumas peças são traduzidas pela idade, algumas pela doença, algumas pela guerra, algumas pela justiça; mas a mão de Deus está em cada tradução, e sua mão ligará novamente todas as nossas folhas espalhadas, para aquela biblioteca onde cada livro estará aberto a um, menos a outro. Como, portanto, o sino que toca para um sermão não chama apenas o pregador, mas a congregação que está por vir, este sino chama a todos nós; mas quanto mais eu, que sou trazido tão perto da porta por esta doença. Houve uma disputa num processo (no qual ambos, piedade e dignidade, religião e estima, estavam misturados), para qual das ordens religiosas deveria tocar as orações primeiro pela manhã: e foi determinado que eles deveriam tocar primeiro aquele que se levantasse mais cedo. Se entendermos bem a dignidade deste sino que dobra para nossa oração da noite, ficaríamos felizes em torná-lo nosso, acordando cedo, nessa aplicação, para que seja nosso e dele, de quem realmente é. O sino dobra para aquele que pensa sim; e embora interrompa novamente, ainda assim, a partir daquele minuto em que essa ocasião forjou sobre ele, ele está unido a Deus. Quem não levanta os olhos para o sol quando ele nasce? Mas quem tira o olho de um cometa quando ele explode? Quem não dobra o ouvido a qualquer sino que em qualquer ocasião soe? Mas quem pode removê-lo daquele sino que está passando um pedaço de si mesmo para fora deste mundo? 

NENHUM HOMEM É UMA ILHA POR SI MESMO; CADA HOMEM É UM PEDAÇO DO CONTINENTE, UMA PARTE DO PRINCIPAL. SE UM TORRÃO FOR LAVADO PELO MAR, A EUROPA É MENOS, COMO SE FOSSE UM PROMONTÓRIO, TAMBÉM COMO SE FOSSE UM SOL DO TEU AMIGO OU DO TEU: A MORTE DE QUALQUER HOMEM ME DIMINUI, PORQUE EU ESTOU ENVOLVIDO NA HUMANIDADE, E POR ISSO NUNCA ENVIO PARA SABER POR QUEM DOBRA O SINO; DÁ PARA TI.

Nem podemos chamar isso de uma mendicância da miséria, ou um empréstimo de miséria, como se não fôssemos suficientemente miseráveis de nós mesmos, mas devêssemos buscar mais da casa vizinha, tomando sobre nós a miséria de nossos vizinhos. Verdadeiramente, seria uma cobiça desculpável se o fizéssemos, pois a aflição é um tesouro, e escasso qualquer um tem o suficiente. Nenhum homem tem aflição suficiente que não seja amadurecida e amadurecida por ela, e adaptada para Deus por essa aflição. Se um homem carrega um tesouro em ouro, ou em uma cunha de ouro, e havenone cunhado em dinheiro atual, seu tesouro não vai custear-lhe como ele viaja.  A tribulação é um tesouro na natureza dela, mas não é dinheiro corrente no uso dela, a não ser que nos aproximemos cada vez mais do nosso lar, do nosso ciúme. Outro homem pode estar doente também, e doente até a morte, e esta aflição pode estar em suas entranhas, como ouro em uma mina, e não ser de nenhuma utilidade para ele; mas este sino, que me fala de sua aflição, escava e aplica esse ouro para mim, Se por esta conspiração do perigo alheio eu levo o meu em contemplação, e assim me seguro, fazendo o meu curso para o meu Deus, que é a nossa única segurança.

 

 

MAS DEPOIS VOCÊ MORRE, COM UM SOM RÁPIDO E UM TIRO

XVIII AT INDE MORTUUS ES, SONITU CELERI, PULSUQUE AGITATO