Há alguns meses
atrás, eu caminhava pela calçada em São Paulo, passando diante da saída de
automóveis de um banco. Um carro que deixava o estabelecimento quase atropelou
um transeunte. Espontaneamente o quase atropelado revidou: “Compra o carro à
prestação e quer ainda me matar!!” O motorista saltou do carro e por pouco não
praticou um homicídio doloso, só porque o outro disse que ele pagava prestação.
Decerto o quase atropelado se lembrou da “filosofia de traseiro” de caminhão,
que prega:“ É velho, mas está pago”.
Não é fácil saber o
que significa classe média. Os anglo-americanos estão atentos à qualidade da
residência, das propriedades, dos automóveis, dos fundos bancários e eles fazem
aquelas perguntas comuns aos cadastros de bancos, isto para quem infelizmente conhece.
Quantos quartos têm a casa? Quantos banheiros existem (é importantíssimo!)? Se
os banheiros estão revestidos com azulejo até o teto ou não; se possuem peças
de prata. Os econometristas, também conhecidos como os “discípulos, os meninos
de Chicago e Michigan”, grandes especialistas nos relatórios e agendas das
Agências Internacionais de Financiamento, como Banco Mundial, FMI, BIRD, etc.,
criaram tabelas referentes às classes médias de determinado país ou região.
Essas tabelas, também utilizadas pelas corporações econômico-financeiras,
definem classes sociais pela renda familiar, classificadas em classe A, em
classe B, C, D, F, G, H, I, etc. A classe A consome mais do que a B, e a B
consome mais que a C, e assim por diante. Tal classificação não é muito
diferente do jargão, agora um pouco esquecido, de estar no “primeiro mundo” (é
coisa de “primeiro mundo”!), quando na Europa, América do Norte, Ásia, se
encontram igualmente classes de primeiro, segundo, terceiro, quarto e último
mundo.
É complicado dizer
onde está a classe média. Muitos europeus acham que a classe social depende da
soma dos prestígios de cada indivíduo. Uma pessoa pode ter elevadíssimo
prestígio como profissional, baixíssimo prestígio como desportista, digamos
médio prestígio como pai de família ou como empresário, e assim por diante. Daí
se chega à conclusão de que tal pessoa situa-se na classe alta, alta alta,
média, média média, baixa, baixa baixa... Porém, a mais refinada concepção de
classe média é a de que ela não existe, é uma ficção, com a qual estou de pleno
e fiel acordo.
Mas muitos querem
saber qual é a sua posição social, seja para manter a própria arrogância, seja
para avaliar sua discreta simplicidade. Ou por mera curiosidade, científica,
vamos lá.Tanto me amolaram que comecei há muitos anos a pesquisar: o que
poderia exprimir a classe média bem segura e convicta? Tentei diversas
hipóteses para atingir uma conclusão científica. Qual o quê? Tive de apelar
para a fantasia a fim de descobrir a tal classe média. Por fim, me tenho
utilizado da seguinte formulação: “aquele que buzina no túnel pertence à classe
média!” Isto, porque quer mostrar a buzina, ou melhor, que a buzina funciona,
sendo ela nova ou velha. Porém a melhor e mais sofisticada explicação diz:
“para a classe média nada há de estável”; melhor dizendo: “na classe média nada
existe para sempre”.
Em certa ocasião,
visitei um ex-aluno, que se achava bem de vida e com sucesso profissional. Vi
seu carro maravilhoso, no tamanho, cor, acessórios e outras coisas mais.
Exclamei entusiasmado: “que lindo, onde você conseguiu isto?” “Ah, disse ele,
já está superado. Saiu um carro agora do tipo WXXX, que é completo, até ri para
as pessoas. Quando puder, vou buscá-lo. Ainda não há igual”. Perguntei se o
atual não está novinho. “Claro, respondeu, mas o outro só falta falar”.
Há alguns meses
atrás, eu caminhava pela calçada em São Paulo, passando diante da saída de
automóveis de um banco. Um carro que deixava o estabelecimento quase atropelou
um transeunte. Espontaneamente o quase atropelado revidou: “Compra o carro à
prestação e quer ainda me matar!!” O motorista saltou do carro e por pouco não
praticou um homicídio doloso, só porque o outro disse que ele pagava prestação.
Decerto o quase atropelado se lembrou da “filosofia de traseiro” de caminhão,
que prega:“ É velho, mas está pago”.
Não é fácil saber o
que significa classe média. Os anglo-americanos estão atentos à qualidade da
residência, das propriedades, dos automóveis, dos fundos bancários e eles fazem
aquelas perguntas comuns aos cadastros de bancos, isto para quem infelizmente conhece.
Quantos quartos têm a casa? Quantos banheiros existem (é importantíssimo!)? Se
os banheiros estão revestidos com azulejo até o teto ou não; se possuem peças
de prata. Os econometristas, também conhecidos como os “discípulos, os meninos
de Chicago e Michigan”, grandes especialistas nos relatórios e agendas das
Agências Internacionais de Financiamento, como Banco Mundial, FMI, BIRD, etc.,
criaram tabelas referentes às classes médias de determinado país ou região.
Essas tabelas, também utilizadas pelas corporações econômico-financeiras,
definem classes sociais pela renda familiar, classificadas em classe A, em
classe B, C, D, F, G, H, I, etc. A classe A consome mais do que a B, e a B
consome mais que a C, e assim por diante. Tal classificação não é muito
diferente do jargão, agora um pouco esquecido, de estar no “primeiro mundo” (é
coisa de “primeiro mundo”!), quando na Europa, América do Norte, Ásia, se
encontram igualmente classes de primeiro, segundo, terceiro, quarto e último
mundo.
É complicado dizer
onde está a classe média. Muitos europeus acham que a classe social depende da
soma dos prestígios de cada indivíduo. Uma pessoa pode ter elevadíssimo
prestígio como profissional, baixíssimo prestígio como desportista, digamos
médio prestígio como pai de família ou como empresário, e assim por diante. Daí
se chega à conclusão de que tal pessoa situa-se na classe alta, alta alta,
média, média média, baixa, baixa baixa... Porém, a mais refinada concepção de
classe média é a de que ela não existe, é uma ficção, com a qual estou de pleno
e fiel acordo.
Mas muitos querem
saber qual é a sua posição social, seja para manter a própria arrogância, seja
para avaliar sua discreta simplicidade. Ou por mera curiosidade, científica,
vamos lá.Tanto me amolaram que comecei há muitos anos a pesquisar: o que
poderia exprimir a classe média bem segura e convicta? Tentei diversas
hipóteses para atingir uma conclusão científica. Qual o quê? Tive de apelar
para a fantasia a fim de descobrir a tal classe média. Por fim, me tenho
utilizado da seguinte formulação: “aquele que buzina no túnel pertence à classe
média!” Isto, porque quer mostrar a buzina, ou melhor, que a buzina funciona,
sendo ela nova ou velha. Porém a melhor e mais sofisticada explicação diz:
“para a classe média nada há de estável”; melhor dizendo: “na classe média nada
existe para sempre”.
Em certa ocasião,
visitei um ex-aluno, que se achava bem de vida e com sucesso profissional. Vi
seu carro maravilhoso, no tamanho, cor, acessórios e outras coisas mais.
Exclamei entusiasmado: “que lindo, onde você conseguiu isto?” “Ah, disse ele,
já está superado. Saiu um carro agora do tipo WXXX, que é completo, até ri para
as pessoas. Quando puder, vou buscá-lo. Ainda não há igual”. Perguntei se o
atual não está novinho. “Claro, respondeu, mas o outro só falta falar”.