A ditadura, a igualdade e a liberdade
constituem os temas centrais deste livro de Evaldo Vieira.
Para demonstrar que o golpe de Estado
foi desfechado, em 1964, por uma facção cívico-militar em meio da população
hesitante e espantada, é imprescindível saber quem são esses revoltosos, que
unicamente enfrentaram indignação e aplauso na tomada do poder estatal. Formada
por militares das Forças Armadas, por políticos de diversos partidos, por
clérigos da Igreja Católica e de outras igrejas, por empresários e banqueiros, essa
facção cívico-militar nas primeiras horas se alimentou com os espasmos
anticomunistas e antitrabalhistas da propaganda e das notícias, especialmente
da grande imprensa.
O golpe de estado de 1964 e a instalação
da ditadura militar só puderam irromper e alojar-se no Estado brasileiro com a
assistência da embaixada norte-americana e de seu Departamento de Estado, que
orientaram ideológica, política e economicamente a facção golpista. Ao impor a legislação
discricionária (até extinguindo a Constituição vigente), ao eliminar a
liberdade política, individual e coletiva, valorizando o privilégio econômico,
a ditadura de 1964 militarizou a vida civil, manietou a sociedade e sufocou as
garantias individuais, mergulhando-se num abismo de contradições.
Investimentos econômicos inestimáveis,
provenientes dos países capitalistas centrais; realizações de obras grandiosas
e outros empreendimentos onde não faltaram cimento e areia; “milagres econômicos”
momentâneos; velozes endividamentos em juros, nos mercados interno e externo; tudo
isto criou a falsa sensação de que, ao menos, a ditadura construiu muito e
matou pouco.
As obras e demais empreendimentos
tiveram o custo humano até agora impagável, motivado pelo arrocho salarial,
pela opressiva legislação trabalhista, pela violenta repressão política e
sindical, pela política social francamente deficiente e controladora. Deu-se no
Brasil aquilo que alguém denominou de “via colonial” de industrialização, por
subordinar amplamente o país aos interesses dos centros capitalistas
internacionais.
As contradições amontoaram-se. Em nome
da democracia, implantou-se ditadura feroz; em nome da Constituição,
transformaram-na em Ato Institucional; em nome do desenvolvimento, ofereceram fugazes
“milagres econômicos”.
O livro “A ditadura militar:
1964-1985”, de Evaldo Vieira, não representa a síntese da História do Brasil
neste período, mas expõe de maneira simples e clara a progressiva mobilização
dos brasileiros em busca do poder legítimo, da igualdade e da liberdade.