sexta-feira, 16 de maio de 2014

Agradecimento a homenagem em 10/05/2010

É tarde, é muito tarde.

Monte Alverne

 

 

 

A oportunidade desta homenagem é evidente: no momento em que me demito da PUCSP (diga-se em boa hora, haja vista o acordo proposto por ela aos professores) e quando tento recuperar parte de minha biblioteca atingida pelas águas da enchente de 2 de janeiro de 2010, em São Luiz do Paraitinga-SP. Além disto, é feita nova edição de meu livro “Autoritarismo e Corporativismo no Brasil”, publicado pela Editora UNESP.

Acredito que este evento represente um ato de gratidão a quem se propôs, desde o início de sua docência, a fazer um trabalho intelectual com a responsabilidade de não enganar a si nem enganar outras pessoas. Tal atitude me obrigou quase sempre à atuação solitária, com retidão, sem adular ninguém, sem manipular, sem articular nada nas universidades em que trabalhei, Universidade de São Paulo (USP), Universidade de Campinas (UNICAMP) e Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP).

Nelas, rejeitei claramente qualquer poder burocrático, de reitores, diretores, chefes, coordenadores, assessores, e outros, inclusive dos professores, o que, aqui entre nós, não constitui tarefa fácil. Cansei-me de ser espectador de certos colegas com diários oficiais, boletins, portarias e outros documentos administrativos, nas mãos ou sob as axilas, para uso próprio ou para pontificar nas reuniões. Cansei-me de ser espectador da falta, muitas vezes, de recrutamento sincero de docentes.

Dediquei-me exclusivamente ao conhecimento e à produção intelectual, tanto quanto pude, porque na universidade quem não tem vocação para o estudo e para elaborar obras reconhecidas, tende a descobrir na burocracia universitária um campo fértil e venturoso. De qualquer maneira, felizmente não padeci nessas universidades privadas, nas quais, de uns anos para cá, se aplica nos professores o taylorismo fabril.

Na universidade, a burocracia de quando em quando se lembrou de mim para participar de sindicâncias sobre furtos, acidentes de automóvel e mau comportamento docente, para as quais não era pago como professor. Porém não posso deixar de recordar jamais professores e intelectuais, diga-se logo, inesquecíveis, com os quais tive a sorte de conviver e de aprender, vários deles se foram.

Meus livros, ensaios, artigos, debates, e mais as entrevistas, palestras e conferencias, estão ai para apreciação de cada interessado.

No segundo semestre de 1977, ingressei no Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação e Serviço Social, na PUCSP e em Educação na FEUNICAMP. Depois, me transferi para a FEUSP.

Promovi pesquisas sobre Política Social, Política Educacional, Direitos Humanos e Epistemologia, de cujos estudos eu só posso me orgulhar. Procurei evitar em meus cursos os modismos decorrentes da invariável recolonização cultural do país, fugindo ultimamente do emprego de manifestações do neoliberalismo, do tecnicismo e do projetismo, que tem assolado as ciências humanas.

Quando assumi a disciplina “Política Social” existiam poucas obras sobre o assunto, que no geral se confundiam com a Doutrina Social da Igreja. Pouca gente falava disto, escrevi sobre este tema. Com a eclosão no Exterior, na década de 1970, da intitulada “Crise Fiscal do Estado” e depois no Brasil com a falência do Estado brasileiro na década de 1980, as disciplinas “Política Social” e “Política Educacional” tornaram-se valiosas e, aos poucos, surgiram especialistas, especialmente no que chamaram de “Políticas Públicas”.

Queria, portanto, me dirigir a todos, desejando um trabalho profícuo e duradouro em prol da sociedade brasileira, sobretudo da sua parte não organizada nem constituída em “lobby”, e submetida à tradicional prática política que tanto infelicita grande parte de nós. Eu, de minha parte, prosseguirei em outras paragens. Obrigado.

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